Thursday, August 03, 2006

Eu costumava amar você todas as manhãs. Todas elas. Em todas eu amei você. Você quase sempre dormia, ou escovava os dentes, ou tomava café extra forte para os seus dentes amarelarem mais e você continuar escovando e escovando milhares de vezes. E em todas essas manhãs eu te amava. Todas elas. Se houve uma manhã naquele tempo, nessa manhã eu te amei. Amava seu sorriso e o seu cabelo desarrumado. Amava a pressa, o corre-corre, a chave perdida. Amava quando esquecia a carteira de motorista e voltava cinco minutos depois reclamando e gritando e batendo a porta atrás de ti. Em todas essas manhãs eu te amei. Amei o teu cheiro e a tua pele macia. Te amar desde a hora em que eu acordava. Todas as manhãs. De todas, não sei de uma em que não pensei em amor ao te ver. Pensar em amor todas as manhãs, era no que você me fazia pensar. Amor. E esse amor escorria pelo meu corpo e molhava o chão do corredor, inundava a casa, transbordava, vazava pelas janelas e molhava as pessoas lá embaixo. A faxineira esfregando panelas molhava a barra do vestido no amor que escorria de mim todas as manhãs, entre as oito e às dez e meia. O nosso gato desviava das poças que eu deixava pela casa enquanto andava. Amor liquefeito escorrendo. E então quando chegava noite e mais nenhuma gota havia em mim, eu deitava ao teu lado e esperava mais uma manhã chegar. Porque em todas as manhãs eu te amei. Em todas elas.

Eu costumava te amar todas as manhãs.
Costumava transbordar também.
Liqüefazia-me.

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